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Eu li: Eu não sei quem você é

Eu não sei quem você é foi o terceiro livro recebido em 2021 pela caixinha Tag Inéditos. O livro foi escrito por Penny Hancock e a tradução foi realizada pelo Davi Boaventura. Não sei quando o livro será publicado, mas será pela editora Dublinense. Assim que recebi meu exemplar eu fiquei bem curiosa para ler a obra. Logo na revistinha descobri que Eu não sei quem você é abordava temas sensíveis e que poderiam causar algum tipo de gatilho, mas resolvi ler mesmo assim.

Os capítulos são intercalados entre as perspectivas de Holly (em primeira pessoa) e Jules (em terceira pessoa). Achei essa característica da obra muito interessante, porque assim era possível ter uma visão de como era a amizade das duas, além de acontecimentos envolvendo o passado delas, já que elas sempre foram muito amigas. Por serem super amigas, Holly e Jules possuem uma ligação muito forte e seus filhos, Saul de 16 anos e Saffie de 13 anos (respectivamente) são considerados filhos especiais na relação entre elas (é como se uma fosse madrinha do filho da outra).

Alguns anos após o falecimento de seu marido, Holly se muda para a vila onde Jules mora com sua família. O vilarejo, pelo o que entendi, fica um pouco no interior de Londres, longe das confusões de uma cidade grande.  Mas infelizmente tudo na vida das amigas muda quando Saffie acusa Saul de tê-la estuprado. E é a partir desse momento que a história começa a se desenrolar, principalmente porque Holly é uma ativista no movimento de violência contra as mulheres. Nós vamos acompanhando, junto com os demais personagens, o que realmente aconteceu entre Saul e Saffie, e a autora faz questão de proporcionar momentos que deixam dúvidas sobre quem está falando a verdade: se Saffie realmente foi estuprada por Saul ou se ele é inocente.

Tudo estava indo bem, mas ai eu senti que mais ou menos na metade do livro a autora perdeu a mão e deixou a história mais arrastada e os acontecimentos foram se misturando de uma maneira estranha. Aliás, já adianto que não gostei de como Penny solucionou todos os mistérios que envolviam Jules, Saul, Holly e Saffie. O prólogo foi o conteúdo que menos gostei na obra como um todo, porque foi praticamente contra tudo o que a autora pregou em boa parte do livro.

Não sei se foi proposital, mas eu senti que Penny H. colocou algumas informações e acontecimentos na história para forçar os leitores a sentirem os mais diversos sentimentos a respeito de seus personagens e também sobre tudo o que acontecia em Eu não sei quem você é. Uma hora eu estava adorando o posicionamento de determinado personagem, e no momento seguinte eu me perguntava porque ele estava agindo daquela forma. E isso acabou me incomodando um pouco.

Eu não tenho propriedade pra falar como a Holly, Jules (ou qualquer outra mãe) deve se comportar em relação a criação de seus filhos. Não sou mãe, mas a experiência que tive enquanto filha foi totalmente oposta aos cuidados e educação que Jules e Holly dão aos seus filhos. Por exemplo, eu senti que Saffie, uma garota de 13 anos, tinha muita liberdade em passar maquiagem ou chegar tarde em casa. Quando eu tinha 13 anos eu não podia nem raspar a perna porque minha mãe não deixava. E eu respeitava isso – apesar de, na época, não concordar muito com o que minha mãe ditava ser certo ou errado para mim (mas sempre respeitei muito as decisões que ela tomava). Posso estar falando abobrinha a respeito desse assunto, afinal, cada um tem um tipo de criação, mas na minha cabeça não fazia sentido a Jules e seu marido darem tanta liberdade para Saffie. Mas, apesar de tudo isso, eu jamais colocaria a culpa de um estupro na vítima, ainda mais em uma criança de 13 anos.

Apesar dos capítulos serem longos e de abordar temas como estupro, violência contra a mulher, machismo, depressão, entre outros, eu achei que a escrita da autora foi bem fluida, prendendo o leitor do inicio ao fim do livro. Isso fez com que eu me prendesse na história e me envolvesse com os acontecimentos, mas infelizmente não foi o suficiente pra fazer com que eu gostasse tanto da obra. Infelizmente o livro não atingiu minhas expectativas, mas foi uma boa leitura.

A edição está bem bonita e o brinde do mês foi um diário, que tem certa relação com os acontecimentos da obra. Identifiquei alguns erros de revisão, mas nada que prejudicasse minha leitura. Também não sei se tem alguma relação com a região do tradutor Davi Boaventura, mas identifiquei várias vezes a palavra contigo nos diálogos dos personagens, e isso me incomodou um pouco – acho que não estou acostumada a utilizar esse termo.

Como disse no início do post, não sei quando o livro será publicado pela editora Dublinense. Infelizmente a obra ainda não está a venda e não tenho como incluir o link para compra. Mas assim que eu souber do lançamento, eu venho atualizar as informações.


Editora: Tag Inéditos (Dublinense) | Autora: Penny Hancock | Tradução: Davi Boaventura | Páginas: 416 páginas | Avaliação: 3/5

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  • Juliana Bomfim

    Cai de paraquedas aqui quando fui procurar o nome do livro em inglês e, bom, assino embaixo da sua resenha.
    É um livro rico na escrita, com muuuita fluidez, mas a vontade da autora de nos fazer duvidar de tudo menos da Holly (que se apresenta em 1ª pessoa) me fez duvidar ainda mais da subjetividade dela.
    Eu também não posso julgar os posicionamentos como mãe das duas personagens, mas posso dizer que usar o tema estupro, com uma enorme dúvida sobre a vítima, me incomoda demais.
    Nossa sociedade está começando a dar crédito as vítimas agora, não era o momento de fazer um livro onde o conflito termina nos 0,05% dos casos..
    Achei desserviço..
    Mas acho que vale a pena a leitura!

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